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O Design Possível. Eduardo Afonso Dias, 50 anos de profissão

17 Abr. 2014 > 06 Jul. 2014
Curadoria
Eduardo Afonso Dias
Rui Carreto

Design expositivo
Eduardo Afonso Dias
Rui Carreto

Design gráfico
Paula Guimarães
 
Piso 2
X

Muitos visitantes vão reconhecer como familiares vários dos faqueiros, das peças de cutelaria e dos recipientes, faianças ou utensílios em exposição. Produzidos em série e comercializados em vários mercados, modificaram mentalidades, hábitos e comportamentos. Hoje, são registo de um tempo de mudança: os primeiros anos de vida democrática, após o 25 de abril de 1974, e as duas décadas seguintes, marcadas pela adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia e pelas profundas transformações políticas e económicas que a sociedade portuguesa viveu. Autor de uma obra vasta e diversa que cobre do design de interiores ao design gráfico, do design expositivo ao desenho de equipamentos e utensílios, Eduardo Afonso Dias é detentor de uma inteligência prática e imaginação construtiva, tal como o via Daciano da Costa. Mais de 500 produtos foram desenhados, redesenhados e comercializados por si, tendo sido comercializados pela Europa, com destaque para a Escandinávia, Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Fruto de 50 anos de profissão, Eduardo Afonso Dias conhece, como poucos, o tecido empresarial português. Sempre defendeu que a diferenciação e excelência dos produtos, aliadas a uma articulada estratégia de comunicação, marketing, venda e distribuição dos mesmos era o único caminho possível para a plena e sólida afirmação da economia portuguesa. Mediu o pulso à realidade das empresas e empresários nacionais, conheceu os mercados externos, procurando potencializar os saberes existentes em cada empresa, com pragmatismo, sentido de oportunidade, singular capacidade de risco, alguns dotes de persuasão e uma dose de intuição. Fundou cooperativas, formou equipas e empresas, viajou pelo país fora e pelo estrangeiro, em nome do que acreditava ser o papel fundamental do design na modernização e desenvolvimento de um povo e de um país. Longe de qualquer tendência formalista ou intenção teórica, Eduardo Afonso Dias foi fiel a si próprio e ao seu entendimento de design industrial, mesmo quando os caminhos apontavam para o desenvolvimento de um design de autor.

A expressão que tantas vezes repetiu ao longo da sua vida, e que naturalmente só podia ser o título desta exposição – o design possível, registada por Fernando Assis Pacheco, em 1984 – expressa o sentido eminentemente prático e operativo que o distinguiu. Conhecer a sua obra é reconhecer um design humanista, o que nos leva à fotografia e à sua galeria de rostos, conhecidos ou anónimos, paisagens, lugares, objetos, artefactos e ofícios, onde procura perspetivas insólitas e planos cinematográficos.

Uma das grandes referências do design português, o seu percurso e obra são também uma metáfora das potencialidades, vicissitudes e mal-entendidos do design no nosso país ao longo dos últimos 50 anos.